São Paulo - região metropolitana
Diário de Ferro 09/10/2013

A primeira travessia

Por Gab Barreiros

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Quando eu decidi que começaria a fazer travessias aquáticas, faltava apenas uma semana para a próxima etapa do Circuito Paulista de travessias, que aconteceria no Guaiuba, no Guarujá. Como eu estaria pelo Guarujá naquele fim de semana, eu resolvi que iria para assistir à prova.

Adivinha? Mesmo sabendo que eu não participaria, mal dormi na noite anterior à travessia… Uma ansiedade sem motivo algum me consumia, fiquei imaginando como seria quando eu realmente fosse competir.

Domingo de manhã, fui com meu irmão para o Guaiuba para ver como era essa tal de travessia. As boias pareciam muito, muito distantes. Ali não havia só 500 m, 1.000 m e 3.000 m de jeito nenhum! Não tinha ninguém para explicar os trajetos, pelo menos não para o público – talvez os atletas soubessem, eu esperava que sim!

Começou a prova! Confesso que achei uma zona. Todo mundo saindo ao mesmo tempo, numa espécie de empurra-empurra, e a impressão de quem vê de fora não é nada boa. Depois eu descobri que a impressão de quem está dentro pode ser ainda pior.

É pior mas é incrível. Se você está pensando em começar a fazer travessias, não desanime por isso, com o tempo você vai criando algumas táticas para fugir desses momentos, e sim, eu vou passar várias dicas também, ao longo dos textos!

Largada masculina – o caos.

Apesar de ter tido essa impressão confusa sobre a largada, o clima era de festa. Ao meu lado havia uma casal que estava participando pela primeira vez, e eles falavam sobre a correnteza que os puxou para longe das boias, sobre o cansaço e todos os imprevistos que aconteceram durante a prova, mas tudo com muita empolgação, me deu muito vontade de ter nadado…

Um mês depois, era minha vez! Canto do Indaiá – Bertioga, um lugar perfeito para fazer sua iniciação em travessias aquáticas. Eu faria só 500 metros. Já tinha dado várias razões para me convencer de que eu era capaz. “Ahhhh, 500 metros eu faço só de perna”; “Aaaaaaah, 500 metros são só dez piscininhas semiolímpicas”; “Aaaaah, 500 metros? O que são 500 metros? Faço ondulando”. Sei.

O trajeto foi explicado, as provas (500 m, 1 km e 3 km) se diferenciavam pela cor das boias. A minha prova seria a das boias brancas – cá para nós, as mais difíceis de se ver, mas tudo bem… Distância de 500 m? Dá pra ver até de olho fechado – mesmo com as boias sendo brancas.

O mar estava calmo, o clima de festa continuava o mesmo, minha ansiedade estava ainda pior por motivos óbvios. Mas eu estava animada e tive sorte de começar com uma equipe muito unida e muito legal, pois nessa primeira travessia, infelizmente, meu treinador não pôde estar comigo. Eu não conhecia quase ninguém da equipe, mas me senti muito bem naquele grupo – o que é essencial, pois o psicológico é um fator determinante em natação oceânica.

Nossa equipe, eu de touca vermelha.

De touca vermelha, Gab Barreiros

De touca vermelha, Gab Barreiros

Fizemos um aquecimento antes da prova, fomos até a primeira boia dos 500 m. Nesse momento me tranquilizei, percebi que não era tão difícil como eu estava imaginando. Na verdade, era até mais tranquilo do que nadar na piscina, pois o sal te dá mais flutuabilidade. A correnteza estava muito fraca, ondulação quase não tinha. Perfeito para começar!

Outras pessoas da equipe fariam sua iniciação nesse dia fariam a prova com acompanhante, mas eu confesso que não queria ir acompanhada; se era para iniciar, eu queria iniciar sabendo de verdade como funcionava todo o empurra-empurra. Mas, como eu já sabia, a largada é uma zona… Adivinha? Perdi a largada. Quando me dei conta, já estavam largando as meninas dos 500 m, e eu ali, me preparando. Só me restava fazer a prova acompanhada – que era a ultima saída. Desanimei.

Largada dada, havia só eu e mais umas quatro meninas, que sairiam acompanhadas. Sem empurra-empurra, sem ninguém também para me mostrar o caminho, já que sai nadando na frente das demais na esperança de alcançar as pessoas que saíram antes (ha, ha, ha, conseguiria sim alcançar alguém…).

Bom, nadei até a primeira boia, meus óculos embaçaram, alguém já havia comentado comigo algo sobre navegabilidade… O que era mesmo? Bom, algo que eu não tinha. Cadê a segunda boia? Ferrou… Estou perdida em alto mar. Certo, sem exaltações, tem um barco da organização logo ali, vou perguntar o caminho…

Nessas horas é ótimo ser mulher, não tive problema nenhum em pedir informação. Eles devem estar rindo da minha cara até agora, mas pelo menos eu achei a segunda boia…

No caminho da primeira boia para a segunda fiquei pensando em como deveria ser ruim ser a melhor, você sai na frente e não tem ninguém para seguir. Se você parar para pedir informação, você perde colocação. Nessa hora, agradeci por não ser boa (risos).

(Oi, treinador, antes que você fique bravo com esse pensamento derrotista, saiba que hoje em dia minha opinião sobre isso mudou, está certo? É ótimo sair na frente, ser a primeira – e, claro, ter navegabilidade.)

O bom de pensar um monte de bobagem no caminho é que, quando você se dá conta, a segunda boia já chegou, falta só nadar em direção à boia de chegada… E assim foi, cheguei acabada, desanimada por ter perdido a largada, mas feliz por ter completado a prova. De quebra ainda fui ao pódio, premiação de segunda fase, algo que até hoje não faz o menor sentido para mim, mas confesso que foi motivador.

Adorei. Estava decidida que continuaria fazendo travessia, mas que nunca mais me distrairia e perderia a largada. E assim foi, dali um mês aconteceria a minha segunda travessia!

Sobre Gab Barreiros

Designer, cenógrafa e principalmente amante de esportes aquáticos.

Sobre o blog Diário de Ferro

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