São Paulo - região metropolitana
Vida em movimento 01/05/2015

Antes ‘coisa de homem’, luta conquista mulheres; mas por que elas lutam?

Por Aline Chrispan
Gabriela Ribeiro (arquivo pessoal)

Gabriela Ribeiro (arquivo pessoal)

A popularidade dos campeonatos e o surgimento de lutadoras na mídia abriram espaço para que as mulheres entrassem permanentemente no universo marcial. Atualmente é possível praticar lutas em muitas academias de fitness por todo o Brasil e, assim, entender por que o interesse por chutes, socos e pegadas existe.

O treino das lutas é dinâmico, motivador e contagiante. Ainda que seja visto como fitness, sem o enfoque marcial, os benefícios são extensos, pois exigem desenvolvimento cognitivo, aprendizado de novos padrões de movimento, treinamento de força, velocidade e agilidade, condicionando o sistema cardiovascular de maneira bastante efetiva.

As exigências da vida feminina são múltiplas e variadas e, por isso, aprender a dominar o corpo, os sentidos e estratégias de posicionamento tornam a luta desafiadora – somada obviamente à descarga de energia que é utilizada nos movimentos e alívio do estresse diário. Durante a prática, ficam de fora as preocupações externas, já que, para ser bem feito, o treino precisa de concentração e dedicação.

Maria do Socorro Barbosa Ferreira (arquivo pessoal)

Maria do Socorro Barbosa Ferreira dá aula (arquivo pessoal)

Professora de taekwondo, Maria do Socorro Barbosa Ferreira, 46, da academia Lira Taekwondo Clube, foi atraída pela arte marcial aos 18 anos. Buscava uma atividade para minimizar os desconfortos provocados por um desvio na coluna lombar. “Graças à prática, não tenho mais problemas com a coluna há muito tempo”, comemora ela. “Na época, eu era a única garota na academia. Hoje, vejo muitas meninas praticando, e o aumento é frequente.”

No ringue ou tatame, não há maquiagem, roupa da moda. O princípio da igualdade é imperativo. Aprende-se que o desenvolvimento é individual e ocorre somente com o auxílio do conjunto e do respeito ao próximo. É no momento do combate em que o verdadeiro lutador e futuro artista marcial entende que o oponente é, na verdade, um companheiro fundamental no processo de aprendizagem. É ele quem aponta falhas e fraquezas; ele é a própria extensão do praticante. É como se o seu colega de treino dissesse o tempo todo: “Olhe a si mesmo, concentre-se”.

Nesse contexto a vitória e a derrota fazem parte do aprendizado, uma vez que o verdadeiro triunfo está na coragem, perseverança, autoconfiança, paciência, tolerância, capacidade de raciocínio e no processamento de informações sob pressão. Ganha mesmo quem se dedica com o coração para entender que a melhoria é interna e que, a cada falha, o esforço precisa ser maior.

Maria do Socorro Barbosa Ferreira dá aula (arquivo pessoal)

Maria do Socorro Barbosa Ferreira dá aula (arquivo pessoal)

A repetição dos movimentos com concentração ensina o praticante a voltar o olhar para si mesmo, a conhecer o próprio corpo, conduzido-o com atenção integral. Repetindo, corrigindo e afinando até que seja natural.

Conhecer as falhas e superá-las é um processo árduo e requer um grande esforço, porque essa luta é contra o medo, o desequilíbrio emocional e a insegurança. Fatores esses idênticos aos que podem limitar a conquista de melhorias na vida pessoal e na profissional.

A grande vitória é, na verdade, entender que dificilmente qualquer situação do cotidiano é maior do que conquistar a si mesmo, e é por isso que as mulheres vêm ganhando espaço no aprendizado das lutas.

A mulher que luta, seja no ringue ou tatame, se fortalece para protagonizar o caminho que escolhe porque conhece a própria capacidade de insistir no que acredita e ir em frente acima das barreiras, já que uma dificuldade é só uma parte do processo todo.

Gabriela Ribeiro (arquivo pessoal)

Gabriela Ribeiro (arquivo pessoal)

Sentimento compartilhado pela estudante Gabriela Ribeiro, de 20 anos: “Tenho grande admiração por todas as mulheres que, de alguma forma, conseguiram vencer e mostrar sua força diante de toda dificuldade que nos é colocada”. Praticante de artes marciais desde os 8 anos, Gabriela tem notado um aumento significativo do público feminino nas aulas. “Mas ainda estamos longe do ideal”, observa.

A mulher ainda precisa abrir espaço por onde passa, ainda precisa batalhar pela igualdade no mercado de trabalho, pelo respeito e pelo próprio corpo. Não é uma dificuldade, uma negativa ou um tropeço qualquer que desmotiva uma mulher que tem vontade de vencer, pois nada mesmo é maior do que a própria vontade.

Quem tem dessas mulheres por perto sabe como é.

Sobre Aline Chrispan

Educadora física, especialista em fisiologia do exercício e mestre em ciências da saúde, ela pratica taekwondo desde 1999. À frente da assessoria esportiva Amplo Movimento, coordena projetos de qualidade de vida em empresas e condomínios. Acesse o site e saiba mais sobre a Amplo Movimento: www.amplomovimento.com.br.

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