São Paulo - região metropolitana
Esporte 10/06/2013

Opinião: criatividade deve compensar a falta de estrutura esportiva escolar

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade
Chegada de uma das semifinais dos 200 metros rasos (Patricia Silva/Esportividade)

Chegada de uma das semifinais dos 200 metros rasos (Patricia Silva/Esportividade)

Despertar o interesse dos alunos pela prática de exercícios físicos é uma das missões dos professores de educação física. A maior parte dos jovens certamente não se tornará atleta, mas, independentemente disso, eles precisam estar cientes dos benefícios das atividades físicas. Também deve estar em pauta o esporte em si. A grande maioria das escolas, no entanto, não tem uma estrutura adequada para o ensino de modalidades que não sejam de quadra, mas isso não é desculpa para elas serem omitidas do cronograma escolar. Estar presente na 32ª edição do Troféu Brasil de atletismo, encerrada no domingo (9 de junho), me fez recordar das aulas que tive ainda nos últimos anos de Ensino Fundamental e me fez pensar em como os professores podem usar a criatividade para contornar essas limitações estruturais.

Onde eu estudava, na zona norte de São Paulo, havia uma quadra de tamanho mediano, com gols, rede de vôlei e tabelas de basquete. Quase todas as aulas de educação física aconteciam lá. Não havia estrutura para o ensino de atletismo, por exemplo.

Entretanto, o professor Vladimir, que nos deu aula por muitos anos, se preocupava em ir além disso. Em todos os bimestres ele realizava conosco dois tipos de atividade: o “teste de resistência” e o “teste de velocidade”. Ambos aconteciam em um corredor de aproximadamente 100 metros, que começava ao lado da quadra, no coberto, e terminava no pátio principal, a céu aberto. As condições não eram as mais adequadas, mas adorávamos aquilo, aquela competição entre nós. No “teste de resistência”, corríamos por 12 minutos. Os que corriam melhor percorriam pouco mais de 2 km. No “teste de velocidade”, o que valia era dar seu máximo em curtíssima distância. Lembro-me claramente de chamarmos nosso colega mais veloz de Donovan Bailey, canadense campeão olímpico em Atlanta-1996, o mais rápido daquela época.

Além disso, Vladimir fazia questão de nos ensinar, em sala de aula, sobre as competições de atletismo. Uma vez ele desenhou na lousa uma pista e nos explicou sua metragem, a questão do balizamento, como a maior distância percorrida por fora era compensada. O professor um dia até disse, já no ensino médio, que montaria uma caixa de areia para fazermos saltos em distância. A ideia, porém, não foi para frente, até porque a praça do bairro seria o local da montagem.

No estádio Ícaro de Castro Mello, assistindo às provas do Troféu Brasil no sábado, aquelas explicações voltaram à minha cabeça após mais de 15 anos. Essas aulas sobre atletismo não precisaram acontecer em uma pista como a do Ibirapuera para se tornarem inesquecíveis. Elas funcionavam tanto que, por um tempo, pensei em treinar para participar da São Silvestrinha, evento para crianças e adolescentes que acontece até hoje no Ícaro de Castro Mello.

A criatividade pode e deve compensar a falta de estrutura esportiva da maior parte dos colégios, sejam eles públicos, sejam particulares. O esporte brasileiro agradece.

Comentários


  • eduardo davila saggese disse:

    Andrei, gostei muito do texto, com certeza lembrei e muito do tempo do colégio e do professor Vladimir. Nossa, realmente esse sim não precisava de muitas ferramentas para nos ensinarmos sobre o atletismo, só bastava a criatividade e força de vontade dele, quero acreditar que existem muitos professores assim e não só na área de educação física.

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