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Atletas enfrentam obstáculos naturais e artificiais e conhecem seus limites

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade
Atleta passa sob rede na Xtreme Race

Atleta passa sob rede na Xtreme Race

Disputar a corrida de obstáculos Xtreme Race no Magic City, parque aquático localizado a 70 km do centro de São Paulo, no município de Suzano, é aceitar os próprios limites de condicionamento físico daquele momento e usar mais a inteligência que a força. É ilusão pensar que os 8 km serão percorridos como em uma corrida de rua em um terreno plano e que um participante comum vai conseguir concluir a prova sem ter caminhado uma vez sequer. Os maiores e mais temidos obstáculos são superados, na verdade, na própria cabeça do atleta. Se o corredor ficar desanimado por já estar cansado no primeiro quilômetro, daí sim terá sido derrotado pela corrida.

Diminuir o ritmo em uma trilha íngreme, por exemplo, não é demérito. Além das dificuldades naturais do percurso, existem aquelas estrategicamente colocadas pelos organizadores ao longo dos 8 km – 20, no caso de sábado passado, dia 25 de abril. O atleta, então, lida com a administração do próprio ritmo e precisa considerar que não pode abusar caso queira chegar ao fim da aventura. Não é fácil travar essa batalha consigo mesmo: se realmente seu condicionamento físico atual não permite que você percorra correndo uma subida com solo cheio de erosões, é melhor você reduzir o ritmo e guardar energia para o próximo trecho menos complicado.

Caminhada em piscina com ondas do Magic City

Caminhada/corrida em piscina com ondas do Magic City

Obstáculos não naturais são o que diferenciam a Xtreme Race das corridas de montanha. No sábado (dia 25), antes mesmo do tapete de largada, os participantes entraram em uma piscina. Saíram dela, largaram efetivamente, correram alguns metros e enfrentaram outra, com água bastante gelada; em seguida eles foram à piscina com ondas, onde não podiam nadar: precisavam contornar a boia caminhando. Depois do “circuito aquático”, a partir do rastejamento sob arame farpado, a prova ficou bem barrenta.

Pulo de fogueira na Xtreme Race

Pulo de fogueira na Xtreme Race

Rastejamento na lama, passagem por pneus e miniescalada em paredão de madeira foram os obstáculos mais comuns do percurso. O mais lúdico foi o “tobogã”, trecho de descida com lona molhada em que os atletas deveriam escorregar; o mais difícil, a travessia suspensa sobre água barrenta, possuía uma barra de ferro sem muita aderência de pegada – segundo a organização, para as próximas edições a travessia com mais “grip”, em reforma atualmente, estará à disposição dos participantes. Carregamento de sacos pesados deu um clima de “treinamento militar” à reta final da prova. No último quilômetro, os atletas tiveram de pular uma fogueira.

Subida de morro com auxílio de corda na Xtreme Race

Subida de morro com auxílio de corda na Xtreme Race

A variedade de dificuldades e a pouca informação sobre o tempo e a situação de prova tornam a Xtreme Race uma corrida singular aos participantes. Em corridas de rua, a organização geralmente libera o percurso e sua altimetria, ou seja, quem os estudou não é pego de surpresa. Em provas como a Xtreme Race, os organizadores do evento tentam introduzir novos obstáculos a cada edição e não dão muitas explicações prévias sobre eles. Não é recomendado sequer acompanhar o próprio tempo durante o evento, pois relógio e celular podem ser danificados na passagem por obstáculos.

O corredor, assim, entra em um “mundo particular”: sem muita noção de desempenho – apesar da indicação de quilometragem a cada km –, sem conhecer a fundo os próximos obstáculos e sem saber o que esperar dos trechos seguintes do percurso. É por isso que o atleta fica mais em contato consigo mesmo que em outros tipos de competição. “Escuta” o que o corpo tem a lhe dizer e faz escolhas estratégicas de acordo com o estado atual. E, quando termina a prova, já pensa em melhorar o condicionamento físico para superar os obstáculos, sejam eles naturais ou não, com mais facilidade da próxima vez.

Em contato com a natureza

A hora é a de descer escorregando na Xtreme Race

A hora é a de descer escorregando na Xtreme Race

Segundo Mauricio Fragata, organizador, cada edição da Xtreme Race mobiliza cerca de 100 pessoas e o trabalho começa seis meses da prova. “Fazemos uma visita técnica para entendermos se o local tem condições de receber o evento. Isso é feito dois ou três meses antes do início das inscrições – e as abrimos três meses antes da prova”, afirmou logo após a sétima edição do evento, a segunda no Magic City.

Diferentemente de outras corridas de obstáculos, como a Bravus, a Xtreme Race dá ênfase ao contato com a natureza. “Nossa ideia é tirar as pessoas da cidade, de seu conforto. Além dos obstáculos [artificiais], os atletas enfrentam morros, subidas, descidas”, disse. Apesar de a largada e a chegada da prova terem acontecido nas dependências do parque aquático, boa parte do percurso foi montada nos morros da região.

A tendência, de acordo com Maurício, é de crescimento das corridas de obstáculos: “O pessoal está enjoando um pouco dos trajetos tradicionais de corrida de rua, porque muda o nome da prova, mas o percurso é o mesmo, e buscando alternativas para isso”.

Subida e descida de parede de madeira na Xtrene Race

Subida e descida de parede de madeira na Xtreme Race

No entanto, treinar para uma corrida de rua é muito mais fácil que para uma de obstáculos. Em São Paulo, por exemplo, parques como o da Cantareira, o Burle Marx e o Alfredo Volpi podem ser utilizados para treinos de corrida em trilhas. Porém, isso não é tudo. “O pessoal tem usado muito o CrossFit como base de força”, declarou Maurício.

Até o fim de 2015, Maurício pretende fazer ao menos uma prova com distância de 10 km, mas dentro dela haverá uma corrida menor para que pessoas com diferentes níveis de condicionamento físico, não só os muito bem preparados, possam se interessar pelo evento.

As inscrições para a etapa do Magic City custavam de R$ 130 a R$ 170, dependendo da época em que eram feitas, e houve três pelotões de largada. Chegaram ao fim da prova 152 homens e 108 mulheres.

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