São Paulo - região metropolitana
Corrida de rua 01/08/2022

Ninguém sai de uma maratona, como a SP City Marathon, como entra nela

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade

Torcida dá aquela energia final aos corredores na SP City Marathon (Ricardo Fantagussi/Fotop)

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Apesar de tudo o que aconteceu a partir de março de 2020, a SP City Marathon não diferiu muito da edição anterior, a de 2019, e até mesmo os números de participantes do evento foram similares, com total de finishers se mantendo na casa dos 12 mil – 3.799 deles com tempo final registrado na maratona. Quanto a mim, entretanto, não se pode dizer o mesmo.

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Três anos atrás, nem sequer poderia imaginar que um dia teria condições de correr uma maratona. Há apenas um ano, porém, começou a parecer um objetivo tangível, concretizado na Maratona de Barcelona, na Espanha, em 7 de novembro de 2021. Embora estivesse satisfeito com o fato de ser um maratonista, havia ainda uma pendência: a de participar de uma maratona em São Paulo, cidade em que nasci e sempre morei.

Bruno e Andrei na subida da 23 de Maio durante SP City Marathon (Donizetti Castilho/Fotop)

A SP City Marathon, um evento da Iguana Sports, reunia as melhores condições de temperatura (literalmente, pois é disputada no fim de julho, no inverno) e pressão (inicialmente, eu pensei que me sentiria menos pressionado por já ter completado uma vez os 42,195 km, o que acabou não sendo totalmente verdadeiro, pois me cobrei mais que deveria) para isso. Outro ingrediente era o percurso, mais dinâmico e interessante que o da Maratona Internacional de São Paulo, da Yescom, prova realizada em abril.

Andrei e Bruno correm juntos em frente ao Theatro Municipal (Marcel Scaranello/Fotop)

Correr em casa tem suas vantagens, e uma delas foi ter encontrado, logo na avenida Pacaembu, um leitor do Esportividade, Bruno Macarini, com o qual dividi a prova por quase 29 km. Foi ao lado dele que corri no centro histórico e na subida da avenida 23 de Maio, trechos em que a SP City Marathon mostrou-se mais vibrante – seja pelo cenário em si, seja pelas atrações musicais proporcionadas pela organização, seja pelo fato de os atletas ainda não estarem muito cansados.

Túnel sob rio Pinheiros é trecho final da meia maratona; já para os maratonistas… (Tito Brito/Fotop)

Quando os corredores dos 21,097 km saíram do percurso, o silêncio e a concentração aumentaram, já que havia ainda outra metade de prova a ser cumprida pelos maratonistas. Logo após o km 30, dentro da Cidade Universitária, disse ao Bruno que ele poderia seguir adiante sem mim. Com as pernas pesadas, diminuí o ritmo e caminhei às vezes. Percebi que dificilmente conseguiria ser “sub-4h”, isto é, completar a maratona em menos de quatro horas. Abri, então, mão do tempo.

Esponja entregue na USP, durante SP City Marathon, para se refrescar (Tayla Pics/Fotop)

É justamente nessa fase que aflora um diálogo mais intenso consigo mesmo: “Será que tento correr mais um pouco? Por que não? Por que sim? Será que vai dar?”. Não importa a maratona: boa parte dos participantes passa por isso. No último quilômetro, a torcida “leva” os maratonistas, e foi também assim na SP City Marathon de 31 de julho de 2022, encerrada no Jockey Club de São Paulo.

Andrei conclui SP City Marathon em 4h03min41s (Adriano Taba/Fotop)

Assim como ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, como dizia Heráclito, ninguém sai de uma maratona da mesma forma que entra nela. A jornada é pesada, modificadora, transformadora. É por isso que os 42,195 km são muito maiores que a distância em si. Do companheirismo à solidão, da agitação ao silêncio, da confiança à dúvida: são quatro horas de um extremo ao outro. Essa é a beleza da maratona.

Comentários


  • Fernanda disse:

    Caracaaaaa, que relato. SPCITY para mim é a melhor de todas.
    Usou muito bem as palavras Andrei. E realmente nos último km o que nos força é a vibração da torcida. Parabéns pela maratona.

  • Sidney Kazuo Chino disse:

    Tudo bem!
    Eu não poderia ter descrito com melhores palavras! Realmente é isso que acontece na Maratona após passar pelos 21km….kkkkkkk
    No meu caso, a reflexão, pensamentos e devaneios….kkkkkkk…duraram quase 5 horas. Não é um bom tempo, mas na minha atual conjuntura física eu saí feliz da vida ter completado a prova👍😃. Parabéns para nós!

  • Alain disse:

    Parabéns pelo belo relato. Foi a minha primeira e acredito que não vai ser a última 😉🙏👏👏

  • Joaquim de Souza Lima disse:

    Parabéns a todos nós… Sucesso

  • Armando Shimokawa disse:

    Parabéns pela corrida e pelo relato, Andrei! Também corri a SPCity 2022 mas estreando a distância nela. Concordei com tudo que você sentiu! Foi uma experiência única mesmo. Que venham outras maratonas para nós! Mas vou esperar um pouco pra descansar e ter vontade para ter outro ciclo de treinamento, que não é fácil, hehehe. Abraços!!

    • Esportividade disse:

      Oi, Armando! O ciclo de treinamento é até mais desgastante que a prova em si, não é? Para que não seja tão longo da próxima vez, parece uma boa ideia manter-se bem treinado. Mas descansar é importante também. E muito obrigado!

  • Demais o relato, metáfora do banho no rio é exatamente isso, apesar de não ser maratonista ainda, já sinto isso na Meia Maratona.

    Parabéns pela prova Andrei!

  • Angélica Pereira Oliveira disse:

    Eu participei da prova, mas fiz a meia maratona. Adorei seu relato e apesar de nunca ter feito uma
    Maratona, acredito muito que as pessoa saem transformadas.. obrigada pelo testemunho

  • Wellington Marçal disse:

    Ótimo texto. Simples e honesto.
    Uma pergunta: Na sua opinião, para quem quer estrear na Maratona, acredita ser esta uma boa opção ? ou pensa como a maioria, que vai para Porto Alegre ?
    Muito obrigado.

    • Esportividade disse:

      Olá, Wellington! Estrear na maratona na SP City é bastante válido, sim, até porque a segunda metade, que é “onde o bicho pega”, é relativamente plana. O difícil ali não é o percurso em si, mas os estados físico e mental. Mas não se esqueça dos treinos de subida. Boa tarde!

  • Wiliam Cruz disse:

    Bom dia Esportividade!

    Bom dia Andrei!

    Cara, ainda não tive essa sensação de correr uma maratona. Quando eu estava bem (antes de parar por 1 ano por causa da pandemia), cheguei a treinar 33km no máximo. Já participei de meias maratonas, mas completar uma maratona é um sonho distante pra mim. Preciso me recuperar fisicamente e emocionalmente também, pois antigamente meu pace era de 4min/km independente da distância: 5km ou 10km. Hoje sofro pra conseguir um pace de 5min30seg/km.

    Mas deixar de treinar e deixar de correr está totalmente fora de cogitação.

    Obrigado pelo texto de incentivo Andrei! Quem sabe um dia, chego lá.

    • Esportividade disse:

      Olá, Wiliam! Você pode voltar a treinar 21 km com regularidade. A partir disso, pode construir uma base sólida para aumentar progressivamente a distância. Daí a maratona não fica tão distante. Pela minha experiência, quando a meia vira uma rotina, você está a poucos meses da maratona. Sobre o pace, talvez seja mais uma questão de você encontrar seu novo ritmo de rodagem e “se esquecer” de quão rápido você já correu um dia. Boa tarde e muito obrigado!

  • Wiliam Cruz disse:

    Boa noite Andrei!

    Eu que agradeço pelas dicas e pelas palavras.

  • Ler seu texto me fez lembrar de todas as sensações que a maratona traz, realmente nós nunca mais somos os mesmo depois de uma maratona, Parabéns pela prova…

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