São Paulo - região metropolitana

Prefeitura ignora parte importante da história de Corinthians e São Paulo

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade
Área onde havia piscinas do Tietê e onde São Paulo FC mandava jogos nos anos 1930 (Esportividade)

Área onde havia piscinas do Tietê e onde SPFC mandava jogos nos anos 30 (Esportividade)

A Prefeitura de São Paulo manteve parte da memória do Clube de Regatas Tietê quando reformou o local para se transformar no Centro Esportivo e de Lazer Tietê, mas deixou totalmente de lado a enorme importância daquela área para o futebol paulista, especialmente para o Sport Club Corinthians Paulista e o São Paulo Futebol Clube. No exato lugar em que já houve o primeiro campo do São Paulo, foi colocada grama sintética a fim de que o espaço possa receber shows. Não existe mais campo de futebol lá. E a prefeitura menciona somente o Clube de Regatas Tietê quando trata do passado do terreno, que era a Chácara Floresta. Todo o resto foi ignorado nos textos e nas cerimônias de entrega do Centro Esportivo e de Lazer Tietê.

“A memória do Tietê foi mantida. Sabemos que grandes esportistas brasileiros iniciaram suas atividades aqui”, disse o prefeito Fernando Haddad no sábado, dia 20 de setembro, sem se referir ao passado mais remoto do local.

Por Arquivo Histórico do São Paulo FC: a Chácara da Floresta

Por Arquivo Histórico do São Paulo FC: a Chácara da Floresta

A área de 19 mil m² coberta por grama sintética é aquela em que ficavam as piscinas do Clube de Regatas Tietê e o campo de futebol da Floresta, que, herdado da Associação Atlética das Palmeiras, foi a casa do São Paulo de 1930 a 1935. No entanto, o estádio são-paulino já havia sido modificado pelo próprio Tietê para o Campeonato Sul-Americano de atletismo de 1937, dois anos depois de os clubes terem se fundido – motivo pelo qual o Tietê ficou com o campo da Floresta.

“Essa é a maior área de grama sintética da cidade”, disse o prefeito paulistano. “A grama sintética foi escolhida porque São Paulo perdeu alguns espaços de shows muito tradicionais; quem não se lembra dos da praça da Paz, no Ibirapuera? Isso foi proibido por um termo de ajuste de conduta com o Ministério Público em função do impacto que aquilo trazia ao meio ambiente e à vizinhança. O mesmo [vizinhança] aconteceu no estádio do Pacaembu. Aqui cabem 40 mil pessoas com conforto para assistir aos shows que a prefeitura vai começar a proporcionar à cidade a partir de 11 de outubro.”

Estádio da Ponte Grande (loucospelotimao)

Estádio da Ponte Grande (loucospelotimao)

Quem joga nas reformadas quadras de saibro de tênis do Tietê está sobre o que já foi o primeiro campo construído com esforço de corintianos. O terreno, pertencente à prefeitura, foi arrendado pelo Corinthians em 1916. Operários, pedreiros, marceneiros, encanadores e serventes corintianos construíam o estádio da Ponte Grande gratuitamente ou em troca das mensalidades em inadimplência. O time alvinegro usou o local até 1927, quando se transferiu para o Parque São Jorge; então a Ponte Grande passou a ser utilizada pela Associação Atlética São Bento. Foi em 1937 que a área foi incorporada pelo Tietê, que a transformaria em quadras de tênis, por exemplo.

AA São Bento, São Paulo FC (azul) e CR Tietê (amarelo) por "Tietê, o rio do Esporte"

AA São Bento, São Paulo FC (azul) e CR Tietê (amarelo) por “Tietê, o rio do Esporte”

“Muito pouca gente que vai ao Clube de Regatas Tietê sabe que a sua portaria e sala da diretoria já foram as bilheterias do campo do Corinthians e que Filó, Amilcar, Del Debbio, Casimiro e outros astros já fizeram jogadas maravilhosas no local onde atualmente estão as quadras do clube, isto é, no mesmo espaço onde começou a jogar a divina Maria Esther Bueno, também autora de jogadas que outras gerações de esportivas não esqueceram. Sem dúvida, a Ponte Grande sempre foi um lugar abençoado”, escreveu Henrique Nicolini, autor do livro “Tietê, o rio do esporte”.

Chácara da Floresta (arquibancada com "bico") e estádio da Ponte Grande (fonte: revista do Tietê)

Chácara da Floresta (arquibancada com “bico”) e estádio da Ponte Grande (por revista do Tietê)

A histórica piscina olímpica, agora aterrada, começou a ser construída em 1932 e foi inaugurada em 1934. A nadadora Maria Lenk passou a defender o Tietê em 1934 após passagem pela Associação Atlética São Paulo, mas foi recordista mundial dos 200 e 400 metros peito em 1939 competindo pelo Clube de Regatas Guanabara (RJ).

Área do Clube de Regatas Tietê antes das reformas feitas pela prefeitura (Google Maps)

Área do Clube de Regatas Tietê antes das reformas feitas pela prefeitura (Google Maps)

Questionado pelo Esportividade, o prefeito Fernando Haddad respondeu: “As piscinas estavam em um estado de degradação muito grande. Só para você ter uma ideia: tudo o que foi investido aqui, da ordem de R$ 14 ou R$ 15 milhões para recuperar todo o espaço, não seria suficiente para refazermos as piscinas. Não houve, infelizmente, manutenção pela antiga diretoria. Não havia com recuperá-las sem um gasto astronômico. Acho que ficou melhor, para ser bem honesto. Esse gramadão vai servir mais a cidade do que se tivéssemos gastado R$ 15 milhões para recuperar um equipamento totalmente deteriorado”.

Exposição improvisada sobre história do Tietê (Esportividade)

Exposição improvisada sobre história do Tietê (Esportividade)

O Clube de Regatas Tietê, fundado em 1907 por ex-membros do Clube de Regatas São Paulo no outro lado da hoje em avenida Santos Dumont, passou em 1914 para o mesmo lado em que encerrou suas atividades em 2012. A área antes daquele ano havia sido ocupada pelo Esperia (de 1899 a 1903) e pelo Clube de Regatas São Paulo, extinto em 1913, quando o terreno já havia sido vendido para a prefeitura – o CR Tietê foi o escolhido pelo poder público para reocupá-lo. No mesmo espaço da primeira sede do Tietê, do outro lado da avenida, instalou-se em 1915 a Associação Atlética São Paulo.

"CR Tietê" ainda preservado na área aberta (Andrei Spinassé/Esportividade)

“CR Tietê” ainda preservado na área aberta (Andrei Spinassé/Esportividade)

Alguns dos objetos da história do Tietê já estão expostos improvisadamente em uma sala, mas será feito um museu de fato. “Todo o acervo que havia aqui está ali e pode ser visto informalmente hoje. Estamos terminando a contratação de gente especializada para fazermos um memorial com muita qualidade sobre a história do Tietê”, contou o secretário de Esportes, Lazer e Recreação, Celso Jatene.

“Não temos a pretensão de apagar a história do clube, muito pelo contrário. Cumpriu sua história na cidade e no país, porque teve Maria Esther Bueno e Maria Lenk, mas somos responsáveis por escrever uma nova história para este espaço. A partir de hoje vamos começar a construir uma nova história.”

O que há agora no Tietê

Ginásio principal do Tietê restaurado, mas sem arquibancadas (Esportividade)

Ginásio principal do Tietê restaurado, mas sem arquibancadas (Esportividade)

O Centro Esportivo e de Lazer Tietê oferece ao público cinco ginásios (quadro deles pequenos, como eram os do CR Tietê), quatro quadras de tênis, quatro de basquete 3×3, quatro quadras poliesportivas, além de um salão de jogos. O espaço também conta com uma pista de caminhada e mais de 19 mil m² de área livre, coberta por grama sintética. Terá playground, uma brinquedoteca e uma sala de leitura; para a terceira idade, existe um espaço com mobiliário para a prática de exercícios físicos ao ar livre.

Quadra de tênis reformada do Tietê (Andrei Spinassé/Esportividade)

Quadra de tênis reformada do Tietê (Andrei Spinassé/Esportividade)

Até o fim de 2015, o equipamento deverá receber uma pista de skate, que será instalada em uma área de 3 mil m², cujo projeto executivo ainda está em fase de finalização. Será construída onde hoje está o estacionamento, entre a Santos Dumont e as quadras de tênis.

“Ainda não chamamos de inauguração porque existem alguns retoques que precisam ser feitos, sobretudo ali naquela área de estacionamento, onde vamos instalar a melhor pista de skate da cidade. Nós tomamos essa decisão de última hora, no diálogo com a comunidade de skatistas”, declarou Haddad, segundo o qual a Chácara do Jockey, na zona oeste, vai também virar parque municipal até o fim deste ano.

De acordo com a Prefeitura de São Paulo, o Clube de Regatas Tietê acumulava dívidas de quase R$ 35 milhões em 2012, quando a administração municipal optou por não renovar a concessão de sua área.

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Comentários


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