São Paulo - região metropolitana
Diário de Ferro 08/01/2014

Relato de uma nadadora de águas abertas: a prova da fuga da boia

Por Gab Barreiros

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Quando 2013 começou, listei quais eram as competições que existiam e suas respectivas datas. Para a minha surpresa, era impossível seguir mais de um circuito ao mesmo tempo, pois os dias de muitas provas coincidiam.

Acabei optando por continuar no Circuito Paulista de travessias, por ser mais acessível para alguém sem carro – as provas são sempre perto de São Paulo (em 2013 aconteceram apenas em Guarujá, Bertioga e Ibiúna).

A primeira etapa foi em Ibiúna, e nunca havia nadado em rio ou represa, mas foi uma experiência bastante agradável. Lembro que a água não estava tão gelada quanto eu imaginava que estaria e não era “tão pesada” quanto me falavam que era…. E, assim, comecei bem o ano, segundo lugar nos 500 m, primeiro lugar nos 1.000 m.

A segunda etapa foi em Bertioga, uma etapa que me marcou. Na verdade, foi um divisor de águas. Nessa prova eu me conheci melhor, achei minha fraqueza, que estava explícita… Ali, na minha frente, e eu nunca havia dado atenção a ela.

A prova de 500 m foi relativamente disputada durante todo o percurso e, ali, na reta de chegada, na corrida, coloquei tudo a perder… As provas do Circuito Paulista, para quem não sabe, não acabam na água como eu acho que deveriam ser, afinal, é travessia e não aquathlon. Então, depois de nadar, você ainda tem de correr até a linha de chegada (vulgo bandeirinhas), e nem sempre é perto da sua saída da água. Assim, depois de conseguir sair da água na frente, perdi na corrida. Pegando o quarto lugar.

Isso é MUITO frustrante para alguém que está ali para NADAR.

O que adianta você se destacar na água se, correndo, você parece uma ameba e põe tudo a perder? Era a única coisa que passava na minha cabeça.

Enfim, esse não era mesmo o meu dia. Antes da prova dos 500 m, aconteceu a de 1 km, que, apesar de eu ter ficado em primeira posição, não significou nada. Estávamos nadando, eu e mais umas cinco meninas no bloco da frente, mais ou menos no mesmo ritmo, umas um pouco mais para frente, outras um pouco mais para trás, mas estávamos ali, juntas.

E a boia? Bom, a boia também estava nadando, mas como ela estava mais bem treinada que a gente, ela  estava nadando para beeeem longe da gente. Ela havia se desprendido, e a correnteza a havia puxado para o outro lado da praia. De repente, não mais que de repente, a boia passa pela gente, DE BARCO! Isso mesmo, a safada da boia pegou carona com o barco e voltou para o seu devido lugar! Ok, vamos explicar… Um barco (da organização), ao ver a boia fugitiva, foi buscá-la. E, assim, pegou a safada e a levou de volta para o lugar de onde ela nunca deveria ter saído.

E, sim, a gente já estava bem além do lugar de origem da Dona Boia… Havíamos nadado uns bons metros à frente de onde deveríamos ter feito a curva para voltar.

Quem estava mais para trás teve vantagem, pois podia contornar a boia no lugar certo, quem estava mais a frente, já havia nadado para além… Portanto, teria de voltar tudo o que havia nadado além.

Sem saber muito o que fazer, perguntamos para um dos barcos de apoio, o qual respondeu que a correnteza havia levado a boia e que, portanto, nós deveríamos sair da água…

Entendemos que a prova havia sido cancelada… E saímos, todas meio juntas, pegando jacaré, enfim, como conseguimos. Eu sai da água do outro lado da praia, voltei caminhando… E, quando chego, a surpresa: a prova não foi cancelada, e se você não der a volta no pórtico de chegada você está desclassificada…

Voltei para a água, passei pelo pórtico de chegada e, assim, primeiro lugar. Valeu? Claro que valeu… Para mim? Não, não valeu. Não foi uma vitória merecida. A disputa não se decidiu na água.

Eu estava mais à frente quando a boia se desprendeu; portanto, não seria justo comigo voltar nadando de onde eu estava enquanto as outras meninas nadariam o percurso certo, mas também não é justo com quem fez o percurso todo a nado ser derrotado por um grupo que voltou a pé.

Também não seria justo desclassificar esse grupo; afinal, a organização passou uma informação errada. E, assim, tudo acabou em pizza.

Já irritadíssima, fui fazer a prova dos 500 m, a qual eu perdi na corrida. Nessa noite, dormi de mau humor (ser competitivo nem sempre é legal) e  decidida a tirar a diferença na próxima prova!

Sobre Gab Barreiros

Designer, cenógrafa e principalmente amante de esportes aquáticos.

Sobre o blog Diário de Ferro

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